O humanismo, no decurso da história humana, apesar de se expressar e declinar em diferentes formas, tem colocado sempre o ser humano como uma preocupação central. No momento atual de crise, esperamos que estas múltiplas visões encontrem oportunidade de trocar pontos de vista sobre o papel que desempenhará o Novo Humanismo no futuro.
Desde o descobrimento do fogo, a tecnologia tem acompanhado o desenvolvimento do ser humano. Hoje em dia defrontamo-nos com uma importante aceleração tecnológica que, com os seus possíveis desenvolvimentos no domínio da inteligência artificial e da biotecnologia, suscita importantes questões sobre a natureza humana. Como se encaixa isto no processo humano? Estamos na alvorada de um novo ser humano ou abre-se um processo que levará à sua degradação?
A violência exerce-se em todo o planeta com múltiplas formas de expressão: física, económica, religiosa, racial, psicológica, sexual, institucional, etc. Vale a pena parar um momento para analisar estas diversas formas da violência. Se queremos dar origem a uma Nação Humana Universal, devemos superar a violência. Devemos encontrar formas não-violentas para resolver conflitos. Como aceder aos meios de comunicação para difundir a não-violência? Como influir sobre as instâncias de representação social e política para que a tenham em conta nas suas decisões? Como integrá-la no trabalho pedagógico, desde as escolas até à universidade? Como chegar às famílias e ao mundo quotidiano pessoal de cada indivíduo?
O fabrico e venda de armas de guerra é um instrumento de poder e um grande negócio, que lucra com a dor e o sofrimento de grandes conjuntos humanos. Se queremos avançar para uma Nação Humana Universal, é fundamental a redução do armamento e há que considerar, em particular, as armas nucleares. Estas representam a forma mais intensa e letal da violência no sistema de relações internacionais. Constituem a maior das ameaças, porque um conflito nuclear em qualquer parte do planeta pode representar o fim da humanidade. Neste sentido, promovemos a adesão e a difusão do Tratado de Proibição de Armas Nucleares, aprovado no seio da Organização das Nações Unidas e que recentemente entrou em vigor. É necessário difundir a existência desse tratado. Ter armas nucleares deveria converter-se em “má propaganda” para um país. Como se pode avançar neste sentido?
Rafael de la Rubia, Tony Robinson, World without war and violence
A crise climática é talvez a manifestação mais evidente da crise do sistema. Um modelo de organização económica, cultural e social com um modo de relação com a Terra, “a nossa casa comum”, que está a pôr em perigo de extinção a espécie humana. Como fazemos para sair desta encruzilhada? Como reequacionamos a relação ser humano-ambiente? Que alternativas estão em gestação para harmonizar esta relação?
Desde a sua origem, o ser humano tem trabalhado a favor da libertação das suas condições de vida, tanto materiais como intangíveis. As melhorias materiais permitiram libertar energia humana para dedicá-la a outras tarefas mais subtis e elaboradas, tanto espirituais como artísticas, culturais, etc. No entanto, as últimas décadas de neoliberalismo fizeram-nos esquecer que esse deve ser o objetivo da economia como ciência aplicada: criar novos modos de resolver as necessidades básicas materiais de maneira eficiente, para permitir dedicar os melhores esforços humanos para metas mais elevadas. Por outras palavras, libertar o ser humano do jugo do trabalho alienante, algo que hoje está ao alcance da mão, somente impedido pela cobiça ilimitada de alguns.
A discriminação feminina é um fato histórico inegável, tal como o avanço das mulheres na reivindicação dos seus direitos e no seu empoderamento social. O que gerou a discriminação e a violência por questões de género? Em que radica a diferença entre homens e mulheres? Por que razão se discrimina também as outras formas de identidade sexual? O que dá a sua enorme força aos movimentos feministas na atualidade? A natureza biológica torna-nos diferentes, mas o ser humano é muito mais do que natureza. A pergunta central é: como considerar a questão de género num mundo novo?
Para os humanistas, a saúde é um direito humano fundamental. Não obstante, se bem que a medicina avance e a esperança de vida tenda a aumentar, estes benefícios não chegam a todos por igual. Ao aumentar o custo e a complexidade, as prestações sanitárias e os medicamentos convertem-se cada vez mais em bens de mercado e cada vez menos em prestações sociais solidárias. Por outro lado, se bem que se fale de Sistemas de Saúde, as prestações vão dirigidas principalmente para o tratamento da doença e não tanto para a prevenção e a promoção da Saúde. Também interessa considerar a existência de práticas e experiências alternativas e complementares que poderiam ser benéficas para a saúde, mas às quais não se presta a devida atenção. No momento atual interessa também analisar as diversas respostas que se estão a dar face à pandemia Covid-19.
A educação tradicional tem por objeto facilitar a adaptação do sujeito ao meio social em que vive. Pressupõe uma atitude passiva no aluno e a aprendizagem como mera recepção e reprodução de conhecimentos. Humanizar o processo educativo significa afirmar uma constante atitude ativa do sujeito na configuração da realidade, de modo que o ser humano não só aprenda o acervo cultural, mas também que lhe dê novos significados. Não se deve considerar o aluno como simples receptáculo de conhecimentos, mas sim como um sujeito com capacidade crítica transformadora em função do melhoramento de si mesmo e da comunidade a que pertence, ultrapassando o socialmente estabelecido como verdadeiro. Para construir um mundo mais humano necessitamos de formar consciências capazes de convergir apesar das diferenças; capazes de convergir na diversidade.
Novos desenvolvimentos na investigação sobre a estrutura e o funcionamento da consciência permitem esclarecer a sua relação com o mundo e enfrentar, com novos olhares, alguns enigmas fundamentais. Qual é o papel da inteligência no desenvolvimento do Universo? O que se passa com a exploração deste último, em todas as escalas? No âmbito da ciência, está a surgir certa inspiração espiritual em torno destes temas.
Há uma postura muito materialista segundo a qual o ser humano é simplesmente um ser que nasce, cresce, se reproduz e morre. De outro ponto de vista, nós pensamos que todo o ser humano tem o direito de se perguntar sobre o sentido da sua vida. Será que tudo termina com a morte ou há algo mais além que nos espera? Certas experiências de contacto com o “sagrado” na profundidade da consciência poderiam permitir um vislumbre de resposta perante este antigo enigma da vida humana.
A possibilidade de uma mudança social requer uma alternativa ao estilo de vida atual. O sistema em que vivemos conseguiu implantar um estilo de vida materialista, individualista e competitivo na grande maioria da população, mas isto acaba por provocar grandes contradições e um registo de vida sem sentido. Não obstante, esse estilo de vida tem fortes raízes e uma inércia enorme que permite a sua manutenção. Poderá a crise atual abrir uma janela de transformação? Que estilos de vida alternativos se poderiam propor para um mundo novo?
Que futuro nos espera? Em que direção vai o ser humano? Aumentará a crise e tenderemos para o apocalipse? Ou esta crise será um passo para uma nova forma de civilização? Quais são as visões de futuro que podem estimular e abrir novos horizontes?